Nos últimos anos, estudos apontaram como os cães treinados podem ser essenciais para auxiliar na descoberta de doenças de seus donos, sendo conhecidos até mesmo como “médicos de 4 patas” em diversos contextos clínicos. O psiquiatra Gilson Hiroshi Yagi explica que o olfato altamente apurado, combinado com a capacidade de formar vínculos emocionais profundos, tornou os animais aliados poderosos na medicina preventiva, no monitoramento de doenças e em intervenções psicoterapêuticas.
“Pesquisas mostram que cães são capazes de detectar compostos orgânicos voláteis (VOCs) liberados por células tumorais. Um estudo publicado no Journal of Breath Research revelou que cães treinados identificaram com mais de 90% de acurácia casos de câncer de pulmão por meio da inalação de amostras de ar expirado dos pacientes. Estudos semelhantes demonstraram resultados promissores para câncer de mama, próstata, entre outros”, cita o médico.
São diversas as aplicações desses animais tanto para a detecção da doença quanto no acompanhamento com ajuda no tratamento. “Existem cães de alerta diabético treinados para detectar mudanças no odor corporal relacionadas a flutuações glicêmicas, por exemplo. Uma publicação do Diabetes Care demonstrou que os cães antecipam eventos hipoglicêmicos com alta sensibilidade, oferecendo segurança adicional a pacientes insulino-dependentes. Até mesmo alertas para crises epilépticas já foram relatados em estudos”.
Agentes ativos que geram resposta positiva em humanos
No olhar do especialista, os cachorros treinados podem ser considerados como agentes terapêuticos promissores. Além disso, o especialista destaca que, em alguns transtornos psiquiátricos e do neurodesenvolvimento, diversos estudos documentam os benefícios psicoterapêuticos da presença dos animais.
“Pacientes com autismo, transtornos de ansiedade, depressão e estresse pós-traumático (TEPT) apresentam melhora em parâmetros neuroendócrinos, com redução do cortisol e aumento da ocitocina após sessões com cães. No caso de TEPT, especialmente em veteranos militares, cães de e emocional contribuem para reduzir pesadelos, crises de ansiedade e isolamento social”, defende.
Ainda, na reabilitação física e estímulo motor, ou seja, na fisioterapia, os cães promovem a execução espontânea de movimentos, melhorando a adesão terapêutica e os resultados funcionais. “Um estudo da Frontiers in Veterinary Science mostrou que pacientes com sequelas neurológicas obtiveram progresso mais rápido quando integrados a sessões com cães de terapia”.
Treinador fala sobre casos mundo afora: cães ajudam a salvar vidas
Para Glauco Lima, treinador profissional de cães de assistência há mais de 30 anos, os benefícios desse tipo de conduta são imensuráveis. Premiado, o especialista é referência quando falamos em cachorros de alerta médico na América do Sul e Europa. “O que me move é a ideia de que os cães são os guarda-costas da saúde humana. Eles detectam crises, acalmam, previnem recaídas e resgatam o afeto. As vantagens vão além da expectativa e são notadas não só pela pessoa doente, como também por todos ao seu redor”.
Cães com esse treinamento são preparados para: deitar ao lado da pessoa durante uma convulsão para evitar lesões, posicionar o corpo entre a pessoa e o chão para amortecer quedas, permanecer ao lado do tutor durante toda a crise para oferecer e emocional, acionar dispositivos de emergência para alertar familiares ou cuidadores, enfim, são verdadeiros anjos que monitoram o dono a todo instante.
Às vésperas de entregar mais uma agente treinada, o especialista se diz emocionado. A Border Collie Aisha foi vendida por 75 mil dólares (cerca de R$ 426 mil) e representa mais que um número. Ela é a ponta de um iceberg de dedicação, empatia e propósito que une os sonhos de um visionário, que enxerga a interação entre cães e humanos como única. “Ela foi preparada não apenas para competir nas renomadas provas de obediência da American Kennel Club (AKC), mas, principalmente, para cumprir uma missão de vida: ser apoio emocional e funcional para uma adolescente de 14 anos nos Estados Unidos que enfrenta transtorno de estresse pós-traumático (TEPT)”, conta.
Ele defende que a cada cão treinado, nasce uma nova chance para alguém. “Eu quero deixar um legado. Ajudar pessoas e animais ao mesmo tempo. Fazer do mundo um lugar melhor. Por isso me profissionalizo, divulgo conteúdo de qualidade na internet ensinando técnicas inclusive a leigos e ministro treinos e workshops para difundir prestação de serviço, além de treinar profissionais para que vejam isso como propósito e, claro, profissão também”.
Hoje, a cada serviço executado Glauco injeta recursos do seu próprio bolso para trazer informações da atividade de cães de assistência, alerta médico ou pesquisa para o Brasil, objetivando, mais uma vez, propagar solidariedade, informação e empatia a todos.