Em ascensão na TV, Gil Hernández tem chamado a atenção como o personal trainer Rafa na novela das sete da Globo, Volta por Cima. O personagem, que começou como um cara “gente boa”, ganhou camadas dramáticas com o envolvimento em um dilema ético envolvendo anabolizantes, revelando a versatilidade do ator. Fora da ficção, Gil também é pura energia: com uma rotina esportiva quase profissional, ele se divide entre as gravações, a paternidade, e agora, a preparação para um monólogo que promete emocionar plateias no Rio e em São Paulo.
“Eu acho que, na sua essência, o Rafa é muito bacana”, diz Gil sobre o personagem atual. “Ele é correto, engraçado, gentil, proativo”. A caracterização de Rafa, inclusive, não está longe da realidade do ator, que cultiva o esporte desde a infância. “Sempre fui um atleta amador. Desde os meus 7, 8 anos, pratico de tudo: futebol, basquete, natação, tênis, boxe, corrida… O esporte me educou”, conta.
Na trama, Rafa se envolve com Miranda (Gabriela Dias), também personal trainer, e descobre que ela indica o uso de anabolizantes para alunos. A cena, além de polêmica, rendeu reflexões nos bastidores. “Fui muito criticado por parecer que estava usando a Miranda. Mas, pra mim, ele gostava dela de verdade. Só precisava saber a verdade. Acompanhem a novela e me digam: ele foi um machista idiota ou alguém com sentimentos reais?”
Além do sucesso em Volta por Cima, Gil também pode ser visto no Canal Viva, na reprise de Malhação – Casa Cheia (2013), onde viveu o hondurenho Hernández, papel que o marcou profundamente. “Foi incrível! O personagem tinha meu sobrenome, falava de imigração — tema da minha vida. Propus um portunhol e me deram liberdade para criar. Foi o primeiro papel de destaque que tive na Globo”, relembra, com emoção.
A ligação com a origem latina se reflete em muitas camadas de sua trajetória artística. Gil nasceu no Rio de Janeiro, mas foi alfabetizado na Venezuela. “Aprendi salsa antes do samba”, brinca. E foi com esse personagem que ele foi indicado ao Prêmio Contigo de TV como Ator Coadjuvante.
O caminho até aqui, no entanto, não foi sem obstáculos. Durante a pandemia, o ator enfrentou dificuldades e teve que buscar outros trabalhos fora da atuação. “Foi um perrengue necessário. Papai do Céu nos testa. Só sabemos do que somos feitos quando enfrentamos esses momentos”, diz, emocionado. “Mar calmo não faz bom marinheiro”. Ele fez os seguintes trabalhos durante a pandemia: pintor de parede, pedreiro, marido de aluguel e vendedor de empanadas.
Agora, Gil se prepara para um retorno marcante ao teatro com BOY, monólogo escrito por Rogério Corrêa. A peça acompanha a trajetória de um ex-garoto de programa nos anos 1990, em plena era Collor, e aborda temas como HIV, preconceito e diversidade. “Mesmo sendo hétero, mergulhei com tudo. É uma forma de homenagear meus amigos gays e dizer: ‘contem comigo’. Não o pano pra homofobia, racismo ou misoginia. Essa luta é de todos nós.”
Com mais de 35 peças, 7 novelas e uma carreira sólida construída entre TV, cinema e teatro, Gil Hernández mostra que seu talento vai muito além das telas. Entre a força do esporte, a emoção do palco e a intensidade dos personagens, ele segue conquistando público, crítica — e novos desafios.