A alimentação pode ser uma aliada importante no controle da endometriose, doença inflamatória crônica que atinge milhões de mulheres. Embora a dieta não substitua o tratamento médico, ela pode ajudar a reduzir dores e melhorar a qualidade de vida.
É isso que constatou a Universidade de Edimburgo, na Escócia, que conduziu um estudo que testou mudanças alimentares em mulheres em tratamento para endometriose com o objetivo de tentar aliviar os sintomas da doença.
Das mais de 2.500 participantes, 45% mulheres que eliminaram o glúten ou os laticínios relataram melhora nas dores. E ainda: 43% das que reduziram o consumo de cafeína e 53% das que diminuíram a ingestão de álcool também observaram alívio dos sintomas.
Segundo a ginecologista e obstetra Fabiane Berta, entrevistada por AnaMaria, o que comemos influencia diretamente a inflamação, o equilíbrio hormonal e o sistema imunológico – três pilares fundamentais no desenvolvimento da condição.
O que é endometriose e como ela age no corpo?
A endometriose acontece quando células semelhantes às do endométrio crescem fora do útero, alcançando locais como ovários, trompas, bexiga e intestino. Essas células seguem o ciclo menstrual, inflamando e sangrando, o que pode causar dor intensa, aderências e até infertilidade.
Segundo a OMS, cerca de 10 a 15% das mulheres em idade fértil vivem com a doença no mundo. No Brasil, os dados do Ministério da Saúde apontam mais de 8 milhões de casos. Como é uma doença crônica, a mulher convive com ela ao longo da vida e precisa de estratégias para gerenciar seus sintomas, incluindo o cuidado com a alimentação.
A alimentação influencia na dor causada pela endometriose?
Sim, e a ciência tem comprovado cada vez mais essa relação. Alimentos inflamatórios podem intensificar a dor pélvica crônica, fadiga e sintomas intestinais. Em contrapartida, uma dieta rica em compostos antioxidantes, fibras e nutrientes anti-inflamatórios pode ajudar no equilíbrio hormonal e imunológico.
“Embora a nutrição não substitua o tratamento médico convencional, ela é reconhecida hoje como um pilar fundamental no manejo da endometriose”, afirma a médica. Fabiane explica que, além do alívio da dor, a alimentação adequada também melhora o bem-estar físico e emocional.
Exercícios físicos ajudam contra dores de endometriose?
Como a alimentação atua no corpo de quem tem endometriose?
De acordo com Fabiane, a alimentação influencia diretamente os mecanismos da inflamação, os hormônios e o funcionamento do intestino. Veja como:
- Regulação da inflamação: Gorduras ruins (como trans e saturadas) aumentam substâncias inflamatórias. Já o ômega-3, presente em alimentos saudáveis, favorece prostaglandinas que reduzem a dor;
- Equilíbrio hormonal: A dieta rica em fibras ajuda o corpo a eliminar o excesso de estrogênio pelas fezes, evitando sua reabsorção e controlando o avanço da doença;
- Microbiota intestinal: O intestino saudável controla a inflamação e metaboliza hormônios. Quando há disbiose, o corpo produz substâncias inflamatórias que agravam a endometriose;
- Estresse oxidativo: Mulheres com a condição costumam ter excesso de radicais livres. Antioxidantes ajudam a neutralizá-los e reduzir a inflamação.
“A alimentação é uma das ferramentas não farmacológicas mais potentes para modular o ambiente inflamatório, hormonal e imunológico da mulher com endometriose”, destaca Fabiane.
Alimentos que devem ser evitados
A médica recomenda reduzir o consumo dos alimentos abaixo, que podem piorar a inflamação e os sintomas:
- Açúcares refinados e carboidratos simples: doces, bolos, biscoitos, pães brancos e ultraprocessados. Favorecem picos de insulina que aumentam a inflamação e também alimentam bactérias intestinais que desequilibram o sistema imune e hormonal;
- Gorduras trans e excesso de gordura saturada: frituras, fast food, margarinas, alimentos industrializados, embutidos (como salsicha, salame, linguiça). Estimulam a produção de citocinas inflamatórias, substâncias que agravam tanto a dor quanto o avanço da doença;
- Carnes vermelhas em excesso e processadas: consumo frequente está associado a maior risco de progressão da endometriose, especialmente pela formação de compostos inflamatórios durante o preparo em altas temperaturas e pela alta carga de gordura saturada;
- Glúten (avaliar caso a caso): embora não exista uma proibição universal, muitas mulheres relatam melhora dos sintomas, especialmente da dor pélvica e desconfortos intestinais, ao reduzir ou excluir o glúten. Isso se deve ao seu potencial de aumentar a permeabilidade intestinal em quem tem predisposição, favorecendo processos inflamatórios;
- Laticínios convencionais (dependendo da sensibilidade individual): podem ser inflamatórios para mulheres com intolerância à lactose ou sensibilidade à caseína. Porém, para quem não tem essa sensibilidade, podem ser fontes importantes de cálcio e vitamina D, que inclusive têm efeito anti-inflamatório;
- Álcool e cafeína em excesso: o álcool sobrecarrega o fígado, que é o grande responsável pela metabolização dos hormônios, incluindo o estrogênio – central no desenvolvimento da endometriose. Já a cafeína, em grandes quantidades, pode desregular o eixo do estresse, aumentando cortisol e, consequentemente, processos inflamatórios e desequilíbrios hormonais.
“Não se trata de demonizar alimentos, mas de entender que a endometriose é uma doença inflamatória, que responde muito ao que você oferece diariamente ao seu corpo”, explica.
Alimentos que ajudam a desinflamar o corpo
Embora nenhum alimento sozinho cure ou controle a doença, Fabiane reforça que um padrão alimentar anti-inflamatório tem impacto direto nos sintomas. A dieta mediterrânea é uma das mais indicadas:
- Azeite extravirgem;
- Peixes ricos em ômega-3;
- Oleaginosas (nozes, castanhas, amêndoas);
- Verduras e legumes variados;
- Leguminosas (feijão, lentilha, grão-de-bico);
- Frutas (principalmente vermelhas).
Outros alimentos com ação anti-inflamatória potente:
- Sardinha, atum, salmão, anchova, chia e linhaça;
- Especiarias: cúrcuma com pimenta preta, gengibre, alecrim;
- Vegetais crucíferos: brócolis, couve, repolho, rúcula;
- Frutas vermelhas e cítricas;
- Chás: chá-verde, chá de cúrcuma, chá de gengibre.
“É o conjunto dos alimentos, em padrão regular e consistente, que tem capacidade de atuar na inflamação e no ambiente hormonal da endometriose”, explica.
Quem tem endometriose pode consumir ovos e laticínios?
Depende da tolerância individual. Os ovos, segundo a médica, são excelentes fontes de proteína e colina, e podem ser consumidos normalmente, salvo em casos de alergia.
Já os laticínios ainda são tema de debate. “Alguns estudos sugerem que o consumo moderado de laticínios, especialmente os ricos em cálcio e vitamina D, pode até ter efeito protetor contra o avanço da doença”, afirma. Porém, mulheres com intolerância ou sensibilidade devem considerar versões vegetais fortificadas.
Resumo: A endometriose é uma doença inflamatória crônica que pode ter seus sintomas agravados ou aliviados conforme a alimentação. Alimentos inflamatórios, como açúcares, glúten e carnes processadas, devem ser evitados, enquanto opções antioxidantes e ricas em ômega-3 ajudam no controle da dor.
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