Maria Eduarda Coelho, médica baiana de 26 anos, viveu um momento de grande impacto ao descobrir que tinha esclerose múltipla. A doença, de origem autoimune e inflamatória, atinge o sistema nervoso central de forma crônica e, no seu caso, o diagnóstico veio após um episódio preocupante de perda de visão.
Em novembro de 2021, enquanto se dedicava ao Trabalho de Conclusão de Curso, Maria começou a enxergar tudo embaçado com o olho direito. A princípio, ela pensou que fosse apenas cansaço, mas a visão não voltou ao normal.
“Relatei o sintoma aos meus professores no dia seguinte e imaginei que fosse algo relacionado à sinusite, como um abscesso afetando a visão”, relembra em entrevista ao portal Terra. Com a piora dos sintomas, ou a tampar o olho para conseguir estudar, pois já não conseguia distinguir cores ou objetos.
O caminho até o diagnóstico
Procurando ajuda, Maria consultou um oftalmologista e fez o teste de acuidade visual. O resultado de 20/200 indicava deficiência visual grave. Mesmo assim, o exame de fundo de olho não mostrou alterações.
Diante dos sinais, o médico chegou ao diagnóstico de neurite óptica, causada por um processo de desmielinização – uma consequência da esclerose múltipla.
“Na hora em que recebi o diagnóstico, desabei. Saí do consultório chorando, pensando: ‘Meu Deus, estou condenada’”, conta Maria. Até então, ela só conhecia casos graves, como o da atriz Cláudia Rodrigues.
Esclerose múltipla: o que é e como se manifesta
A esclerose múltipla, segundo a médica Rafaela Silva, da Lundbeck Brasil, empresa especializada em saúde do cérebro, é uma condição neurodegenerativa e autoimune que afeta cronicamente o sistema nervoso central.
Durante os períodos de atividade da doença, chamados de “crises”, o sistema imunológico ataca a bainha de mielina, prejudicando a comunicação entre o cérebro e o corpo.
Ela compara a bainha de mielina a uma capa isolante dos nervos, que acelera a transmissão dos sinais entre o sistema nervoso e o restante do corpo. Quando danificada, essa estrutura compromete a transmissão de sinais, resultando em sintomas diversos.
“Isso está diretamente relacionado ao surgimento dos sintomas da doença. Esses sintomas podem variar bastante, dependendo da região comprometida”, explica.
Convivendo com a doença
Maria foi diagnosticada com o tipo Remitente-Recorrente (EMRR), o mais comum, caracterizado por surtos seguidos de remissão. Há também os tipos Secundariamente Progressivo (EMSP) e Primariamente Progressivo (EMPP), ambos com evolução mais contínua e debilitante.
Logo após o diagnóstico, Maria iniciou a pulsoterapia, tratamento com altas doses de corticosteroides aplicadas via intravenosa por tempo curto. Com isso, conseguiu recuperar totalmente a visão.
Hoje, Maria toma um imunossupressor duas vezes ao dia e leva uma vida normal. Desde o diagnóstico, não teve mais crises. Para ela, foi essencial entender que o diagnóstico não era uma sentença: “Não é o fim do mundo”, reforça.
“Qualquer doença crônica gera impacto, mas você aprende a lidar com o tempo. Assim como acontece com diabetes ou hipertensão, é possível conviver bem com apoio e tratamento adequados”, afirma.
Os sinais que am despercebidos
Entre os sinais mais comuns estão: fadiga intensa, alterações na fala, visão embaçada ou dupla, instabilidade ao caminhar, vertigem, rigidez muscular, dor, formigamento, e sintomas cognitivos e emocionais como depressão, ansiedade e perda de memória.
Segundo Rafaela, os sintomas iniciais mais alarmantes, como a perda de visão, costumam levar os pacientes rapidamente ao médico. No entanto, sinais mais sutis, como fraqueza generalizada, podem atrasar o diagnóstico por meses ou anos.
Diagnóstico precoce
A maior parte dos diagnósticos ocorre entre os 20 e 40 anos, fase de grande transformação pessoal e profissional. Por isso, o impacto emocional pode ser profundo, exigindo não só tratamento médico, mas também acolhimento psicológico.
Rafaela destaca que é fundamental aumentar a conscientização sobre os sinais da esclerose múltipla e combater o estigma das doenças neurológicas. “O conhecimento pode transformar a forma como o paciente encara o diagnóstico e lida com a própria condição.”
Os medicamentos disponíveis visam controlar a progressão da doença e evitar incapacidades futuras. “Apesar de não haver cura, os tratamentos modificam o curso da esclerose múltipla”, afirma Rafaela.
Ela defende uma abordagem completa, que envolva não apenas os remédios, mas também terapias de reabilitação e apoio multidisciplinar. Isso inclui psicólogos, fisioterapeutas, neurologistas e outros profissionais de saúde.
Resumo: A médica Maria Eduarda Coelho, de 26 anos, recebeu o diagnóstico de esclerose múltipla após um episódio de quase cegueira. A doença autoimune afeta o sistema nervoso e pode ter sintomas variados e silenciosos. Apesar de não ter cura, o tratamento adequado garante qualidade de vida.
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